No período da Primeira República o estado da Bahia foi vítima de uma considerável negligência por parte do Governo brasileiro. Que favorecia os Paulistas em desprezo aos outros estados“[…] a economia regional era fortemente fragmentada. Ao contrário da agricultura paulista, centrada no café, a estrutura econômica baiana apoiava-se em vários produtos de exportação, como o café, o tabaco, o cacau, o açúcar e o algodão, bem como sobre atividades de mineração, igualmente segmentadas e isoladas”(CASTRO SANTOS, 1998)
Segundo Nancy Rita Sento Sé de Assis: "[…]A cidade de Salvador, entre os anos de 1889 e 1930, não apresentou processos relevantes de diversificação da economia e de industrialização. A propósito deste último, deve-se levar em consideração que a Bahia na década de 1860 ocupava a posição de primeiro centro têxtil do país, caindo para a nona posição em 1890. Todavia, a ausência de indústrias não pode ser exclusivamente atribuída ao desinteresse das camadas dominantes do Estado. Pelo contrário, esta se inscreve no universo mais amplo da política econômica republicana que não impôs medidas coerentes a longo prazo, capazes de protegê-las ou estimulá-las francamente.” (ASSIS, 1996) "
Tendo a maioria de sua população vivendo na zona rural (cerca de 63,8%) é de se esperar que a economia pintadense seja focada na agropecuária . O controle das terras é, de certa forma, centralizado. Sendo que a grande maioria dos produtores, 80% do total, tem o controle de apenas 15% destas.
"Rede Pintadas é uma organização que representa entidades nãogovernamentais do Município de Pintadas, interior da Bahia. Abrange organizações sociais, projetos de autogestão, organizações produtivas, comerciais, culturais e religiosas [...] A metodologia adotada para a estruturação das nossas perspectivas sobre a sustentabilidade da Rede Pintadas está constituída na relevância de todos estes fatores construtivos."(RAYMUNDO & ASANO)
Referências
ASSIS, Nancy Rita Sento Sé de. QUESTÕES DE VIDA E MORTE NA BAHIA REPUBLICANA Valores e comportamentos sociais das camadas subalternas soteropolitanas (1890-1930). SALVADOR-BA, 1996.
CASTRO SANTOS, Luiz A. de. As Origens da Reforma Sanitária e da Modernização Conservadora na Bahia durante a Primeira República. Dados, Rio de Janeiro , v. 41, n. 3, p. , 1998 .
RAYMUNDO, Bárbara Alvim; ASANO Fabiana Yumi. Noções e Percepções Sobre a Sustentabilidade da Rede Pintadas
FISCHER, Fernando; NASCIMENTO, Antônio.Projeto Rede Pintadas
História UNEB - Turma de Pintadas
Blog da turma de Licenciatura em História da UNEB, Polo de Pintadas.
terça-feira, 19 de dezembro de 2017
Cultura e religiosidade
Eviane Oliveira Santana
Manifestações da identidade brasileira marcada pela miscigenação e influências na história cultural e religiosa de Pintadas-BA
A identidade brasileira é composta pela miscigenação dos povos africanos, indígenas e europeus, sua cultura e religiosidade tem traços de todos esses povos, porém como a historiografia brasileira e baiana foi escrita por europeus, muitas vezes a história é destorcida da realidade, com base apenas na cultura europeia, excluindo a presença da cultura africana e nativa. Hoje já se percebe uma aceitação maior das outras culturas que são presenças marcantes em nossa identidade, mesmo existindo muitos preconceitos.
A cultura e religiosidade da Cidade de Pintadas BA, é marcada por diversos eventos e manifestações como Réveillon, Semana Cultural, Aniversário da Cidade, São Pedro (arraiá do bamburrá), Arraiá das Comunidades, Cavalgada e Jegada, Expo Pintadas, Festa da Padroeira N. Senhora da Conceição, Festivais Regionais de Sambadores, etc.
A
presença de traços da cultura negra nas festas de santos católicos,
é um vestígio na região, o samba de roda, o caruru,
as orações e hinos marcam essa tradição, o ato de soltar foguetes
é outra evidencia que marca as ''Rezas'' celebradas para os santos católicos, mas que prevalece alguns traços da cultura africana.
Os
santos mais cultuados é Cosme e Damião
e Crispim Crispiniano. Os santos no Candomblé e na Umbanda são
conhecidos como os orixás Ibejis.
É
o sincretismo religioso tão presente nas festas dos santos
católicos, sinais de um tempo em que negros disfarçavam o culto a
seus deuses.
Normalmente
aqui na região de Pintadas, as rezas de todos os anos como é
chamada acontecem nas casas de pessoas que tiveram filhos gêmeos e
por isso devem essa devoção aos santos, temem também a
acontecimentos nas
famílias,
caso não continuem a tradição.
As
casas são enfeitadas com bandeirolas, imagens
e velas,
também tem o caruru que precisa de 7 crianças na
mesa (um pano estendido no chão) para degustar as comidas ofertadas.
Logo após a cerimônia tem o samba, composto por batuque e chula e
dança, há também a invocação do caboclo que dizem ser pessoal ou
que existe na família.
A
elite baiana no período republicano, queria eliminar os traços da
cultura negra com o branqueamento da população, apenas seguir os
costumes e tradições europeias com ideais de modernidade, progresso
e civilização, porém a população persistiu em seus traços da
miscigenação das culturas que formula a identidade brasileira,
dando continuidade nas tradições, crenças e costumes.
REFERÊNCIAS
https://www.visiteobrasil.com.br/nordeste/bahia/historia/conheca/religiosidade
http://www.cultura-arte.com/bahia/cultura.htmhttp:/
/www.culturatododia.salvador.ba.gov.br/festa-modelo.php?festa=4http:/
/www.cult.ufba.br/enecul2005/EdileceSouzaCouto.pdfhttps://
pt.wikipedia.org/wiki/Cultura_da_Bahia
http://historiasecenariosnordestinos.blogspot.com.br/2013/10/a-influencia-da-cultura-africana-na.html5
Pesquisa realizada em conjunto com o Bolsista IC (UNEB/FAPESB) Reuelio Marques Rios (2009/2010).
A Luta Pela Terra Gera Conflitos
Maria da Paz Oliveira
da Silva
As
principais causas dos conflitos que desencadeou a guerra de Canudos foram às
condições sociais e geográficas da região. O Nordeste brasileiro era formado de
grandes latifúndios improdutivos, pertencentes a poucos proprietários. Os
coronéis donos das terras mantinham os sertanejos em péssimas condições de
sobrevivência, e como estes não tinham terras eram obrigados a submeter-se a
tal situação de miséria.
A Luta do Lameiro em Pintadas
Analisando o conflito de Canudos
percebe-se que aqui no município de Pintadas região semi-árida localizada no
interior da Bahia a 300 quilômetros da capital Salvador, também houve conflitos
com aspectos diferenciados mais focados na questão da terra. Aconteceu um
grande episodio em 22 de novembro de 1974 o conflito do Lameiro, o senhor
Manoel Carneiro o mais conhecido como Nequinha,um grande fazendeiro da região
planejou um grande golpe contra 18 famílias que habitava em uma área de terra
de aproximadamente 600 tarefas, que as famílias tinham herdado dos seus pais.
O fazendeiro se apropriou das terras
vendendo 300 tarefas deixando famílias desobrigadas. Isso gerou um conflito que
durou 12 anos de lutas entre grileiro e os trabalhadores rurais que viviam em
situações difícil com a seca e a terra era o único meio de sobrevivência , ali
plantava colhia, criava os animais e gerava renda e tudo foi destruído
pelo grileiro que buscava o apoio de delegados, governo,
juiz e outras autoridade baiana com o
propósito de destruir as famílias que
viviam na região, chegou a causar a
morte de dois trabalhadores rurais, que lutava pelos seus direitos.
Foram 10 anos de lutas sem
sucesso entre grileiro e os trabalhadores. Os trabalhadores buscavam força na
justiça que no momento ficava a favor de quem tinha o capital, mas como o povo
unido já mais será vencido, em 20 de agosto de 1985, pessoas da comunidade se
uniram abraçando a causa em busca dos direitos dos mais necessitados, o senhor Gesron
Fernandes Gomes conhecido por Gilson e outros companheiros como Dernival Epifânio
que na época era presidente do sindicato dos trabalhadores rurais de Pintadas,
levaram o problema para a igreja católica que tinha como pastor da diocese de
Rui Barbosa D. Mathias, padre Ricardo Guiamelli, Italiano pároco da igreja de
Pintadas, irmã Velzi de Santa Catarina e Neusa Cadore que hoje é deputada
estadual da Bahia, ambas prestavam serviços de evangelização na igreja católica
de Pintadas e na época foram guerreiras colocando suas vidas em risco
enfrentado armas violentas de delegados batalhão de policias e pistoleiros para
garantir o direito de sobrevivência do mais necessitado da fazenda Lameiro. Foi
assim que representante de 15 comunidades foi ao local ver, ouvir e tomar decisões, a noticia foi para a delegacia de
Ipirá imediatamente o delegado intimou o líder do sindicato Dernival Epifânio,
não respondendo sozinho, foi acompanhado de três advogados e 153 pessoas nessa
audiência e assim os mutirões aconteciam fortemente.
Depois que o povo buscou força na
igreja se fortaleceu e a coisa andou, fizeram diversos mutirões cada mutirão
variava de 150 a 300 pessoas trabalhando em conjunto para o bem de todos era um
faz e desfaz o povo fazia e o grileiro destruía tudo. Os trabalhadores tiveram
o apoio das paróquias vizinhas, fizeram varias manifestações na cidade de Ipirá
que contava com a participação de mais de 600 pessoas.
Veja a diferença, do poder religioso
de Canudo /Pintadas tiveram visões contraditórias lá em Canudo a igreja
protestava contra o povo buscava força no governo da Bahia para destruir o povo
que usufruía da terra inclusive os padres, a ambição pela terra era fortíssima.
Aqui em Pintadas foi diferente a igreja mostrava o seu lado solidário em favor
do menor, o objetivo era conquistar a terra para o povo. Foram muitas lutas muitas perseguições por
parte do grileiro, mas o povo resistiram e em janeiro de 1986 recorreram
ao INCRA, órgão que apoiava o trabalhador,a Comissão
Agrária era órgão que defendia patrão e a Comissão Agrária que defendia os
trabalhadores e outros órgãos do governo que fizeram várias visitas no local do
conflito e chegaram a conclusão de que
os trabalhadores rurais tinham direito as terras do lameiro. E povo tomou posse das terras com
autorização do Juiz,em 19 de fevereiro de 1987, as 16h00 horas em cumprimento
ao mandato da lei de nº 96/87 expedindo nos autos de desapropriação nº 58.543 a
requerimento do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária.
Em 27 de outubro de 1987 foi o ultimo
adeus a casa do grileiro... Ninguém concordava que a casa do grileiro
permanecesse no local e foi destruída pelos trabalhadores que foram vitoriosos.
Segundo afirmações do senhor Gesron Fernandes Gomes que era lide da comunidade
do Lameiro e a irmã Velzi e outros companheiros essa luta foi para eles uma
escola durante dois anos que transmitiu uma extrema aprendizagem para toda
vida, levando a toda comunidade o estimulo de reivindicação dos direitos pela posse
de terra que ate os dias atuais é maior fonte de riqueza do município. Hoje a
maior parte das terras de Pintadas continua na mão dos coronéis, e a ma
distribuição da terra gera a desigualdade social do nosso município.
Depois de inúmeros mutirões, negociações
políticas, debates, manifestações populares e confrontos, o então programa de
reforma agrária do governo federal desapropriou 250 hectares de terra para que
essas famílias fossem assentadas. No entanto, logo houve a percepção de que a
terra era importante, mas sozinha não resolveria o problema da maioria dos
produtores familiares da região, obrigados a emigrar parte do ano para São
Paulo em busca da subsistência. Desse modo, houve um grande intercâmbio entre
as comunidades e uma aproximação de pessoas ligadas à Companhia de
Desenvolvimento e Ação Regional da Bahia (CAR), ligada à Secretaria de
Planejamento, do Governo do Estado da Bahia, à Superintendência de
Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) e à Empresa de Assistência Técnica e Extensão
Rural da Bahia (Ematerba), órgão vinculado à Secretaria da Agricultura do
Governo da Bahia, que se envolveram diretamente na resolução do conflito,
deixando um saldo de conhecimentos técnicos que mais tarde seriam incorporados
pelas comunidades. Perduram até hoje os vínculos, pessoais inclusive, entre
esse grupo e o município de Pintadas.
Resultou daquele momento a
sensibilização a respeito da luta pela terra e de que isso não era uma problemática
exclusiva daquelas 18 famílias que nesse período se encontrava com 16 famílias,
mas de grande parte das famílias do município. Afinal, suas demandas não
poderiam ser tão diferentes das apresentadas pelo restante da população: terra,
produção, renda, saúde, educação, apoio, participação popular, segurança, etc.
Apesar dos anos conturbados, a Luta do Lameiro deixou um saldo positivo
desproporcional à sua amplitude pontual. O capital social decorrente desse
processo foi muito importante para a construção do que seria o Projeto
Pintadas/BNDES.
Com o apoio de técnicos da Companhia de
Desenvolvimento e Ação Regional da Bahia, procuraram-se alternativas produtivas
que viabilizassem a agricultura familiar e foi elaborado um projeto de US$ 1,5
milhão para 300 famílias, financiado a fundo perdido pelo BNDES. A idéia era
constituir vários grupos de sete a 10 famílias, cada uma doando ao grupo três
hectares de terra por um período de 10 anos para constituir uma área que seria
trabalhada coletivamente pelas famílias do grupo. Em alguns grupos, famílias
doaram mais terra para permitir a participação de produtores sem-terra.
Os investimentos e o trabalho na terra
do grupo seriam coletivos, permitindo a escolha das melhores áreas para
construir o açude, plantar mandioca, etc. Nos anos de 1989, 90 e 91 foram
criados respectivamente 15, 12 e sete grupos, chegando a 32 grupos no total, em
vez dos 44 previstos. Hoje, não existe mais nenhum grupo em funcionamento.
Todos se desfizeram a maioria deles inclusive bem antes do final do projeto. Podes
e dizer, conforme José Albertino Lordelo, técnico da CAR com vários anos de
relação com o município e ex-coordenador do Plano de Desenvolvimento do
Assentamento do Lameiro, que o “projeto carecia de racionalidade econômica,
pois não havia gestores, mas lideranças” e misturava dialeticamente a
“iniciativa privada e a coletividade”. No entanto, além de ter sido espaço de
experimentação e de difusão técnica, os grupos do Projeto Pintadas/BNDES foram
também um espaço de recomposição dos laços sociais que permitiram reforçar as
relações de confiança e solidariedade entre os produtores e a construção de uma
identidade de grupo como agricultores familiares.
Do mesmo modo, o papel do Projeto
Pintadas/BNDES foi absolutamente notável, na medida em que colocou os
produtores em contato com pessoas, instituições externas e até internacionais,
que apóiam até hoje o desenvolvimento do município.
Embora o financiamento do BNDES fosse a
fundo perdido, os 9 grupos efetuaram o ressarcimento da metade do dinheiro
recebido para formar um fundo rotativo que continua beneficiando a comunidade
até hoje, tendo viabilizado, por exemplo, a construção do Centro Comunitário de
Serviços de Pintadas (CCSP). A organização do Projeto Pintadas/BNDES permitiu
um acúmulo de capital social que atualmente se reflete no dinamismo da Rede
Pintada e no desenvolvimento do município. Dessa forma, esse Projeto não pode
ser encarado como mal sucedido, sob pena de enfocarmos apenas o lado econômico
e desprezarmos os aspectos sociais.
É preciso continuar com essa prospecção
articulada para que as futuras gerações consigam perpetuar um legado forte e
significativo de solidariedade, responsabilidade social, do poder político,religioso e o respeito pela vida.
Comemoração dos 30 anos da luta pela conquista do Lameiro |
REFERENCIA:
Entrevista coletiva: com lideranças da comunidade local.(Gesron Fernandes Gomes e irmã Velzi)
https://pt.slideshare.net/ffischer/projeto-rede-pintadas26 de mai de 2017 - Referências Bibliográficas Bazin, Frédéric. O Projeto Pintadas: do apoio à agricultura familiar ao desenvolvimento territorial. Disponível em http://www.pronaf.gov.br/Encontro/textox/ Pintadas%2003%2006.doc Arquivo consultado em 15 de agosto de 2002. Cooperativa de Crédito Rural de Pintadas ...
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